domingo, 10 de abril de 2011

Passos de Oeiras: Narrativa da Tradição do Bom Jesus.





Fotos: Orlando Berti e arquivo FNT


A Festa de Passos acontece há mais de duzentos anos na cidade de Oeiras, a 315 km da capital Teresina, e tem início na Quinta-feira de Passos, anterior à Quinta-feira Santa(Fogaréu), com a procissão da Fugida do Bom Jesus.


Logo às 19h do mesmo dia, a Catedral de Nossa Senhora da Vitória do século XVIII ( primeiro templo regular do Piauí ) é tomada pelos romeiros que assistem à missa da Fugida, expressão que significa a fuga de Cristo para o Monte das Oliveiras. Antes de encerrar a Santa Missa, o sacerdote preside a cerimônia do Miserere – salmo 50. Várias vozes entoam estrofes lamuriosas, enquanto o celebrante incensa e asperge com água benta, a imagem oitocentista do Bom Jesus.


Em seguida, a imagem deixa a catedral, coberta por um dossel roxo, acompanhada por uma multidão de fiéis, até a doce colina do Rosário, onde fica a igreja de Nossa Senhora do Rosário também do século XVIII. Durante a noite da quinta e o dia da sexta-feira, a velha igreja transforma-se no santuário do Bom Jesus ( Horto das Oliveiras ). A fuga simboliza o momento em que Jesus se recolhe para rezar.


Ao meio dia da sexta-feira, reza-se o tradicional Ofício dos Passos, onde os devotos cantam a Paixão e Morte de Jesus. A partir das 17h da sexta de Passos, a procissão inicia. Mais de 30 mil pessoas acompanham a via dolorosa do Bom Jesus pelas ruas históricas da Primeira Capital.


Antes de sair, a imagem é colocada no adro da velha igreja do Rosário, onde a personagem Verônica, conhecida em Oeiras por Maria Beú, canta a lamentação do profeta Jeremias: “Caminheiros que passais por este caminho, parai um pouquinho e olhai por favor, se neste mundo existe, uma dor assim tão grande, como a dor de minha dor(...)”.


Assim a procissão deixa a igreja e vai passando em cada Passo – capelas em número de cinco espalhadas pelo centro histórico, enfeitadas com as tradicionais flores de passo. Em cada capela faz-se a benção com água e incenso, canta-se o miserere e mais uma vez a Verônica entoa a lamentação, ora em português, ora em latim.


O ponto alto da procissão é o encontro de Bom Jesus com Nossa Senhora das Dores na Praça das Vitórias, em frente ao Paço Municipal, sede da Prefeitura de Oeiras. As duas imagens, do Bom Jesus e da Virgem das Dores, seguem para o Passo do Engano, onde a Imagem do Senhor dos Passos dá três voltas simbolizando o Cristo enganando seus algozes. É comum os devotos fazerem três pedidos, no silêncio do coração.


Ainda o último Passo, colorido pelas flores, a sauddade já é presente no rosto do romeiro, pois a procissão está quase chegando ao fim. Ao chegar à catedral de Nossa Senhora da Vitória, as imagens do Bom Jesus e de Nossa Senhora das Dores ficam expostas para a visitação e esmolas. Muitos romeiros aproveitam esse momento para agradecer as graças recebidas, tocando as imagens e cantando benditos.


Durante a romaria, milhares de devotos e romeiros ocupam todo o espaço do coração de Oeiras, formado pelo conjunto histórico, seguindo os Passos do Senhor Bom Jesus. São momentos de muita comoção popular, louvor e adoração.


A romaria dos Passos é considerada a maior festa religiosa do Piauí. São cerca de vinte e quatro horas de intensas orações e de manifestações de fé, que fazem parte das cerimônias em honra ao Bom Jesus dos Passos de Oeiras.


HINO AO BOM JESUS DOS PASSOS – ( Autor desconhecido )

A vós eu venho Bom Jesus

Buscar conforto a minha dor

A dor que mais meu peito sente

é ter-vos eu tão pouco amor.

Senhor Bom Jesus dos Passos

Senhor eterno e sem fim

Por vossa sagrada cruz

Compadecei-vos de mim.

Se foram as minhas culpas

A causa do meu mau fim

Senhor esquecei-vos delas

Compadecei-vos de mim.

Não morreste pelos anjos

Nem por nenhum serafim

Sim por mim foi que morreste

Compadecei-vos de mim.

No dia em que eu for julgado

Não terei ninguém por mim

Nesse dia então meu Deus

Compadecei-vos de mim.

Ó meu Bom Jesus dos Passos

Dai-me na morte um bom fim

Naquela hora mais terrível

Compadecei-vos de mim.


Pedro Dias de Freitas Júnior é professor de História, Jornalista, conselheiro da FNT, membro do IHO e integrante da PASCOM Diocesana.