“Folkcomunicação é o processo de intercâmbio de informações e manifestações de opiniões, idéias e atitudes da massa, através de agentes e meios ligados direta ou indiretamente ao folclore”.(BELTRÃO, 1967)
As festas religiosas expressam o saber popular, demonstrando através da devoção uma face inventiva e criadora do fiel devoto, com uma linguagem impregnada de simbologias e de ritos que comunicam a fé e a crença em determinado ícone de adoração.
São formas populares como as vestimentas, os cantos e louvações, as promessas, orações, romarias e ex-votos que dão significado ao mundo do devoto, levando-o a buscar respostas e justificativas para as intempéries da vida na certeza de reinventar seu mundo.
Os fenômenos da religiosidade popular são mais acentuados no nordeste brasileiro, pois encontra no sertanejo, o criador e reprodutor dessas manifestações. Em todo o Brasil as festividades religiosas acontecem durante todo o ano, demarcando o tempo e construindo um conteúdo folclórico.
Assim acontece com a Festa do Divino, que tem sua origem atribuída a uma promessa feita pela rainha de Portugal D. Isabel de Aragão, no século XIV que invocou efusivamente o paráclito em prol da conciliação de sua família. A tradição de cultuar o Espírito Santo espalhou-se pelas colônias portuguesas e pelo mundo ibérico, sendo considerada uma festa universal das mais ricas em simbologias.
No Brasil a Festa de Pentecostes e / ou Folia do Divino acontece em todo o território e foi implantada no século XVIII pelos padres jesuítas. São cortejos, cavalgadas, tríduos preparatórios, novenas, procissões, ofertas de espórtulas à igreja e a doação de alimentos pelos mais abastados aos pobres. Na chamada Folia do Divino, os festeiros, devotos e foliões preparam cortejos que seguem em peregrinação pelos povoados, vilas e cidades em busca de uma esmola. À frente a bandeira com a Pomba da Paz, banda de música com som festivo, crianças vestidas de anjos que saúdam com alegria àqueles que generosamente ofertam o muito ou o pouco ao Divino. Segundo reza a tradição, aquele que contribuir com a esmola, terá a benção divinal extensiva à sua família.
Em algumas cidades do Brasil a Festa do Divino é comemorada cinqüenta dias após a festa da Páscoa no calendário cristão, representando a comunicação do Espírito Santo com os apóstolos no cenáculo, ou seja, segundo os evangelhos, momento que as línguas de fogo abrasaram aqueles homens simples, inspirando-os a pregarem a boa nova do Cristo.
Em Oeiras, sede da primeira freguesia dos "Sertões de Dentro", a Freguesia de Nossa Senhora da Vitória ( 1696 – 1697 ) e marco inicial da colonização do Piauí, celebra o Divino no dia de Pentecostes. A tradição chegou a Primeira Capital, na segunda metade do século XVIII e é celebrada com alegorias e elementos simbólicos da fusão da cultura portuguesa com a cultura sertaneja.
As festividades começam em Oeiras no domingo liturgicamente denominado pela igreja católica como dia da Ascensão de Jesus aos céus, anterior ao domingo de Pentecostes. Nesse dia os oeirenses celebram a Coroação do Divino, com cortejo, missa, hinos de louvor e fogos de artifício que anunciam a chegada da pomba de madeira do século XIX à catedral de N. Senhora da Vitória na primeira missa do dia.
Alguns elementos e personagens fazem parte do Império do Divino em Oeiras. Todos os anos as famílias oeirenses que desejam receber a imagem do Paráclito por um ano em sua casa, são inscritas em um sorteio organizado pela paróquia local que acontece no dia da Festa da Ascensão ou folcloricamente conhecida como dia da Coroação do Divino, na missa realizada à noite em mais uma igreja mariana da cidade, a igreja da Imaculada Conceição. O felizardo tem o privilégio de abrigar em sua residência o santuário do Divino no prazo de um ano.
Dentro dessa miscelânea folclórica algumas particularidades enfeitam essa festa popular. A imagem do Divino é simbolizada por uma pomba de madeira do século XIX, sobreposta numa bandeja de prata, acompanhando coroa e cetro de prata que ficam expostos para a veneração dos fiéis. Ainda compõe a simbologia da festa, uma bandeira cor vermelha com uma grande pomba branca ( Bandeira do Divino ), ela guia o cortejo e onde passa é reverenciada pelos fiéis. Também a família que patrocina a festa do Divino oferta um boi ou vários como de costume para as comunidades mais carentes, dando o sentido de partilha para a celebração.
As cores predominantes são o vermelho e o branco, que correspondem simultaneamente ao fogo abrasador e a paz, um entendimento evangélico e popular. Aquele(a) que é sorteado(a) para receber a imagem, é designado(a) de Imperador ou imperatriz do Divino, uma alusão à monarquia portuguesa que se faz presente dentro desse imaginário religioso do oeirense.
No dia da Festa de Pentecostes a cidade se cobre de vermelho e branco. Nas roupas que os devotos usam; nos lençóis e toalhas estendidas sobre as janelas e portas das casas do centro histórico; nas fitinhas e adereços estilizados; nas flâmulas que enfeitam a cidade e no coração de cada devoto. Logo pela manhã a multidão se aglomera na praça das Vitórias e tradicionalmente as nove horas acontece a missa solene, seguida de procissão. Na missa das dezenove horas do mesmo dia, a imagem do Divino é repassada para a família que será a guardiã por um ano, dando continuidade a tradição religiosa.
A Festa do Divino em Oeiras caracteriza processo comunicacional, pois está repleta de elementos que traduzem uma identidade proveniente da cultura popular, constituída pela realidade social e histórica. As manifestações de devoção ao Divino configuram uma permanente mediação simbólica, apoiada na compreensão do conteúdo comunicacional através dos elementos do folclore presentes nessa manifestação secular.
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