quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Apresentação do livro: Valter Alencar e a História da televisão no Piauí


“A luta não envelhece as esperanças”


Na condição de jornalista de formação, causou-me imensa honra o convite para proferir apresentação do livro “Valter Alencar e a História da Televisão no Piauí”. Obra do escritor e Juiz do Tribunal Regional Eleitoral do Estado do Piauí e diretor da TV Rádio Clube de Teresina, Dr. Valter Alencar Rebelo.
Digo isto, porque a história retratada no livro vai confluir com um dos momentos históricos mais importantes para a História da Comunicação piauiense, e por termos ainda pouca bibliografia sobre o tema, apesar de tantas escolas de Comunicação Social em nível superior, existentes em nosso Estado.
Ao receber o livro, através do presidente da Fundação Nogueira Tapety, Dr. Carlos Rubem, o conhecido Bil, recorri primeiramente à ficha catalográfica para antes da primeira leitura, perceber a que tipologia textual pertencia; se uma biografia ou um livro reportagem.
Ao constatar que era uma biografia, passei a lê-la com olhos mais humanos, pois toda biografia é recheada por algo que ultrapassa o campo contextual, traz algo mais profundo, algo que não se limita e não se objetiva, traz uma vida cruzando várias outras vidas.
O especial neste caso é que esta biografia reflete não apenas a vida do homem que a intitula, mas a transformação da maneira de se viver no Piauí, pois a televisão mudou a forma de se ver o mundo, a maneira de se interagir e principalmente, a maneira de nos vermos enquanto piauienses.
O livro não inicia na temática proposta, mas pinta todo um painel das realizações de Valter Alencar antes de concretizar seu maior feito. Já na introdução o leitor pode mergulhar em uma contextualização histórica do processo político e social do nosso Estado, enfocando a cidade natal de Valter Alencar e o universo familiar em União.
Percebe-se na narrativa, a competência jurídica de Valter Alencar e sua simplicidade, mesmo tendo segundo Jorge Chaib, as leis na ponta da memória. O que o levou a passar em concurso público para Promotor de Justiça e a ocupar aos trinta e um anos de idade a chefia de Polícia do Piauí, o que hoje corresponde ao cargo de Secretário de Segurança Pública do Estado.
Mesmo no âmbito jurídico, o educador latente sempre veio à tona. O magistério foi uma de suas paixões. Algo me faz acreditar que a comunicação já estava aí o atormentando, já que a Comunicação Social é na sua essência uma área educacional. Além do educador, a obra nos revela o político atuante, ocupando cargos no primeiro escalão do governo de Chagas Rodrigues.
Entretanto no terceiro capítulo, o leitor vai desaguar na nascente de um sonho a priore ousado, porém realizado mais tarde. Em 1956 começa a escrever sobre Direito no jornal “O Dia”, num espaço chamado “Questões Jurídicas”. Respondendo de forma muito inteligente as cartas que lhe chegavam à redação e mais tarde dotado de oficina tipográfica própria, põe na rua a primeira edição do Jornal de Notícias, na manhã de 21 de abril de 1950. Ali começava uma história de amor à causa comunicacional, alimentada pelo desejo de transformação de nossa realidade, através do poder midiático e ético da imprensa.
Um passo tinha sido dado em direção a um marco da história política e cultural deste Estado. Ali começava um árduo caminho, revelando comunicadores na imprensa escrita, participando e formando opinião através dessa gazeta, em relação aos principais fatos sócio-políticos, não só do Estado, mas também do país, diga-se de passagem, em verdadeira ebulição política.
A comunicação impressa foi a porta de entrada para um universo mais instantâneo: o Rádio. Aliás, é importante lembrar que de todas as experiências em veículos de comunicação, a criação da Rádio Clube de Teresina teve para este grande visionário um sabor especial, um desafio. Visto que a educação sempre foi seu projeto social maior e agora através da Rádio, poderia alcançar muito mais pessoas com um conteúdo mais popular e de utilidade pública, características inerentes à imprensa falada.
No processo de fomentação da educação através da Comunicação Social, podemos dizer ao ler o livro, que a Rádio Clube de Teresina foi o embrião do grande desafio desse sonhador: “a TV Clube”. Desse imaginário auditivo do rádio o livro vai desaguar no universo lúdico da televisão, revelação concreta do espírito pioneiro de Valter Alencar.
Na abertura do quinto capítulo uma foto em especial chamou-me atenção: o lançamento da pedra fundamental da TV Rádio Clube de Teresina, tendo em primeiro plano o Cônego Cardoso dando a bênção sagrada.
Assim, o autor vai tendo o cuidado de situar o leitor numa contextualização da História da Televisão pelo mundo, chegando à instalação da TV no Brasil e sua democratização, até se deter a uma breve historização da TV Globo, mostrando o desbravamento comunicacional deste veículo pelo Brasil, através de suas afiliadas, desde os anos 50, até chegar aos anos 70, década em que foi instalada a TV clube no Piauí.
O acervo iconográfico do livro traz fotos impactantes, desde a preparação do terreno, até chegar a mostrar fotos da primeira sede da TV Clube de Teresina, o que ajuda o leitor a percorrer de forma visual a grande corrida do ideal de Valter Alencar.
O sexto capítulo é escrito através de uma simbologia de três termos, onde o autor lança ao leitor como esse processo se concretizou. “Nas mãos”: a TV já era real no Brasil; “No coração”: o sonho idealizado por Valter Alencar; e “no ar”: a TV clube era agora a imagem do povo do Piauí, mostrada para os próprios piauienses, expressão visual de que era possível se fazer uma televisão neste Estado.
A força de um ideal levou um homem a sonhar e ver seu sonho realizado, levou Valter Alencar a iniciar o processo comunicacional televisivo em um dos Estados mais pobres da nação, levou o nosso Estado a produzir demanda jornalística a partir de nossa realidade. A TV Clube era agora um canal de transformação social, e lá estava ela, a educação sendo a base desse projeto, como tudo o que plantou Valter Alencar. Pensar nesse fato isolado é não saber olhar de forma holística, como a comunicação esta intimamente ligada a todo o processo da evolução humana.
Após a TV Clube, Teresina iria experimentar o poder transformador da mídia televisiva, que penetra e altera as relações políticas, sociais, culturais, comerciais e sobretudo comportamentais.
O mais interessante da obra, ora apresentada, é que o sonho, o ideal de Valter Alencar, que é fio condutor dessa narrativa de um tempo e de um povo, não se encerra na concretização deste. O livro mostra que os feitos de caráter educacionais e culturais não se estacionam. Ao final vê-se uma TV Clube digital.
É como se o sonho de Valter Alencar tivesse sido lançado há uma atemporalidade, visto que até hoje, pode o Piauí gozar dos avanços tecnológicos na área televisiva. Nenhum grande ideal se desfacela, pelo contrário, transmuta-se, reinventa-se, redescobre-se.
“Valter Alencar e a História da Televisão no Piauí” é uma biografia dos piauienses, um livro motivador para todos os homens e mulheres deste Estado. Um grande grito que nos acorda para lembrarmos que aqui no Piauí, se plantando com força e ideal tudo dá.
Além disso, é um grande presente a todos os profissionais que durante mais de três décadas trabalham arduamente para fazer televisão com identidade piauiense e assim, contribuem para a informação responsável de nossa sociedade, mesmo com grandes dificuldades, com grandes desafios.
Este livro que ora apresento-lhes senhores, é parte da história deste Estado, é um retalho da nossa longa história comunicacional, que um homem corajoso começou a tecer e que é dever nosso continuar, pois lutar por um ideal é o que temos de mais nobre, como seres humanos. Sem nossos sonhos a vida aqui é sem graça, a vida aqui fica sem norte, sem cor e nem imagem.
Muito Obrigado!

*Pedro Dias de Freitas Júnior é professor de História, Jornalista, membro do Instituto Histórico de Oeiras e Conselheiro da Fundação Nogueira Tapety.
Oeiras, 27 de novembro de 2009 – Espaço Cultural Café Oeiras.

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