domingo, 25 de março de 2012

Passos de Oeiras



A festa dos Passos acontece há mais de duzentos anos na cidade de Oeiras, a 317 km de Teresina, e faz parte da liturgia da Semana Santa, que começa na Quinta feira da Fugida do Bom Jesus, anterior à Quinta feira Santa (Fogaréu), com celebrações em honra ao Bom Jesus dos Passos. Logo às 19h do mesmo dia, a Catedral de Nossa Senhora da Vitória do século XVIII (primeiro templo regular do Piauí) é tomada pelos romeiros que assistem à missa da Fugida, expressão que significa a fuga de Cristo para o Monte das Oliveiras.

Antes de encerrar a missa, o sacerdote que preside a eucaristia, conduz a cerimônia do Miserere – salmo 50. Várias vozes entoam estrofes lamuriosas, enquanto o sacerdote incensa e asperge com água benta, a imagem oitocentista do Bom Jesus. Em seguida, a imagem deixa a catedral, coberta por um dossel roxo, acompanhada por uma multidão de fiéis, até a colina do Rosário, onde fica a igreja de Nossa Senhora do Rosário também do século XVIII. Durante a noite da quinta e dia da sexta feira, a velha igreja transforma-se no santuário do Bom Jesus (Horto das Oliveiras ). A fuga simboliza o momento em que Jesus se recolhe para rezar.

Ao meio dia da sexta feira, reza-se o tradicional Ofício dos Passos, onde os devotos cantam a Paixão e Morte de Jesus. A partir das 17h da sexta de Passos tem início a procissão. Mais de 30 mil pessoas pagando promessas e vestindo roxo, cor predominante que simboliza a penitência, acompanham a via dolorosa do Bom Jesus pelas ruas históricas da Primeira Capital. Antes de sair, a imagem é colocada no adro da velha igreja do Rosário, onde a personagem Verônica, conhecida em Oeiras por Maria Beú, canta a lamentação do profeta Jeremias: “Caminheiros que passais por este caminho, parai um pouquinho e olhai por favor, se neste mundo existe, uma dor assim tão grande, como a dor de minha dor(...)”.

A procissão deixa a igreja do Rosário, ao som da banda Santa Cecília que executa o dobrado do Bom Jesus, passando em cada Passo – capelas em número de cinco espalhadas pelo centro histórico, enfeitadas com as tradicionais flores de passo. Em cada capela faz-se a bênção com água, incenso e com a relíquia da Santa Cruz, canta-se o Miserere e mais uma vez a Verônica entoa a lamentação, ora em português, ora em latim.

O ponto alto da procissão é o encontro do Bom Jesus com Nossa Senhora das Dores na Praça das Vitórias, em frente ao Paço Municipal. Milhares de romeiros ocupam todo o espaço do coração de Oeiras para assistir e acompanhar o encontro das duas imagens, momento de muita comoção popular. Em seguida a procissão segue para o Passo do Engano; lá a imagem do Bom Jesus dá três voltas numa representação simbólica de que Jesus tenta enganar seus algozes. É costume os devotos fazerem três pedidos durante o ritual.

Assim a procissão chega ao último Passo e depois à catedral de Nossa Senhora da Vitória, onde as imagens do Bom Jesus e de Nossa Senhora das Dores ficam expostas para a visitação e esmolas. Muitos romeiros aproveitam esse momento para agradecer as graças recebidas, colocando velas no cruzeiro da catedral, ex-votos, beijando e tocando as imagens numa comovente despedida.

A romaria dos Passos é considerada a maior festa religiosa do Piauí. São cerca de vinte e quatro horas de intensas orações e de manifestações de fé, que fazem parte das cerimônias em honra ao Bom Jesus dos Passos de Oeiras.

Pedro Dias de Freitas Júnior é historiador, jornalista e membro do Instituto Histórico de Oeiras

2 comentários:

Marli disse...

As suas palavras vão montando o quadro das minhas lembranças da quinta-feira e sexta-feira de Passos.Saudades do cheiro de alecrim, dos devotos, dos pagadores de promessa, de pessoas queridas que não estão mais conosco fisicamente, como Lourdes e dona Dadá...Saudades, saudades.

Antonio Reinaldo Soares disse...

Pedro, você fez um relato sucinto e emocionante da festa maior de nossa religião. Fiel e emocionante. Meus parabéns.
Antonio Reinaldo Soares Filho