A festa dos Passos acontece há mais de duzentos anos na cidade de
Oeiras, a 317 km de Teresina, e faz parte da liturgia da Semana Santa, que
começa na Quinta feira da Fugida do Bom Jesus, anterior à Quinta feira Santa
(Fogaréu), com celebrações em honra ao Bom Jesus dos Passos. Logo às 19h do
mesmo dia, a Catedral de Nossa Senhora da Vitória do século XVIII (primeiro
templo regular do Piauí) é tomada pelos romeiros que assistem à missa da
Fugida, expressão que significa a fuga de Cristo para o Monte das Oliveiras.
Antes de encerrar a missa, o sacerdote que preside a eucaristia, conduz
a cerimônia do Miserere – salmo 50. Várias vozes entoam estrofes lamuriosas,
enquanto o sacerdote incensa e asperge com água benta, a imagem oitocentista do
Bom Jesus. Em seguida, a imagem deixa a catedral, coberta por um dossel roxo,
acompanhada por uma multidão de fiéis, até a colina do Rosário, onde fica a
igreja de Nossa Senhora do Rosário também do século XVIII. Durante a noite da
quinta e dia da sexta feira, a velha igreja transforma-se no santuário do Bom
Jesus (Horto das Oliveiras ). A fuga simboliza o momento em que Jesus se
recolhe para rezar.
Ao meio dia da sexta feira, reza-se o tradicional Ofício dos Passos,
onde os devotos cantam a Paixão e Morte de Jesus. A partir das 17h da sexta de
Passos tem início a procissão. Mais de 30 mil pessoas pagando promessas e
vestindo roxo, cor predominante que simboliza a penitência, acompanham a via
dolorosa do Bom Jesus pelas ruas históricas da Primeira Capital. Antes de sair,
a imagem é colocada no adro da velha igreja do Rosário, onde a personagem
Verônica, conhecida em Oeiras por Maria Beú, canta a lamentação do profeta
Jeremias: “Caminheiros que passais por este caminho, parai um pouquinho e olhai
por favor, se neste mundo existe, uma dor assim tão grande, como a dor de minha
dor(...)”.
A procissão deixa a igreja do Rosário, ao som da banda Santa Cecília que executa o dobrado do Bom Jesus, passando em cada Passo –
capelas em número de cinco espalhadas pelo centro histórico, enfeitadas com as
tradicionais flores de passo. Em cada capela faz-se a bênção com água, incenso
e com a relíquia da Santa Cruz, canta-se o Miserere e mais uma vez a Verônica
entoa a lamentação, ora em português, ora em latim.
O ponto alto da procissão é o encontro do Bom Jesus com Nossa Senhora das
Dores na Praça das Vitórias, em frente ao Paço Municipal. Milhares de romeiros
ocupam todo o espaço do coração de Oeiras para assistir e acompanhar o encontro
das duas imagens, momento de muita comoção popular. Em seguida a procissão segue
para o Passo do Engano; lá a imagem do Bom Jesus dá três voltas numa
representação simbólica de que Jesus tenta enganar seus algozes. É costume os
devotos fazerem três pedidos durante o ritual.
Assim a procissão chega ao último Passo e depois à catedral de Nossa
Senhora da Vitória, onde as imagens do Bom Jesus e de Nossa Senhora das Dores
ficam expostas para a visitação e esmolas. Muitos romeiros aproveitam esse momento
para agradecer as graças recebidas, colocando velas no cruzeiro da catedral,
ex-votos, beijando e tocando as imagens numa comovente despedida.
A romaria dos Passos é considerada a maior festa religiosa do Piauí. São
cerca de vinte e quatro horas de intensas orações e de manifestações de fé, que
fazem parte das cerimônias em honra ao Bom Jesus dos Passos de Oeiras.
Pedro Dias de Freitas Júnior é historiador, jornalista e membro do Instituto Histórico de Oeiras
2 comentários:
As suas palavras vão montando o quadro das minhas lembranças da quinta-feira e sexta-feira de Passos.Saudades do cheiro de alecrim, dos devotos, dos pagadores de promessa, de pessoas queridas que não estão mais conosco fisicamente, como Lourdes e dona Dadá...Saudades, saudades.
Pedro, você fez um relato sucinto e emocionante da festa maior de nossa religião. Fiel e emocionante. Meus parabéns.
Antonio Reinaldo Soares Filho
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